quinta-feira, 16 de julho de 2009

Poesia calejada

Entre os dedos
esparsos medos
escorrem estanques
até o chão.
Na calejada mão
do poeta, que espreita
olhares, gestos e risos.
Aos gritos e berros sujeita
à sua condição
de não ser livre.
Ele vive atado:
mente aberta,
coração engaiolado.
Sente, sofre,
vive a vida de outros.
Observa a todo o tempo
para seu desgosto
o brilho da têmpora
a pele, o osso.
Vibra sem rumo
à emoção alheia
e a ele se assemelha
a velha louça desagastada
o barco sem prumo,
navio sem proa.
Entre vitórias,
tristes derrotas
e dias de glória,
sabe que seu destino é voar
com suas asas com grilhões
De pernas tortas
e andar até o fim,
quando o vento
leva-o com desdém,
como a mãe sem seu rebento
tirar-lhe a idéia de vez.
Esse é o destino
de quem num inocente desatino
decide pela poesia, e pela dor.
pés e mãos calejados
ansiando sempre
sem sono e muito café.