quarta-feira, 26 de março de 2008

Veias: não as quero a pulsar!


Ando cansado de me cansar.
Casado com o cansaço
desgastado o meu aço
ando querendo repousar.

Repousar em um sono profundo
não lembrar-me de um mundo
em que não há fome da amar,
voraz vontade de seguir
e de a todos ajudar.

Ando querendo sair
deixar essa realidade tímida
em que meus sentimentos vivem a impelir
o meu sangue a correr nas ocas veias
que preenchem minha vida.

Parem meus glóbulos, por favor!
acalmem-os todos!

Sinto muito pelas misérias
sinto muito pelas mortes
sinto muito pela ignorância do homem.
Acho que sinto muito por tudo
e por isso preciso ficar mudo
para que eu possa descansar.

Queria cantar - cansei de tentar.
Queria mudar a todos- lembrei que não dá.
Posto que exausto não consigo enxergar
Cego e surdo prefiro permanecer
e que Sr.Destino possa tecer
por si só
tudo aquilo de que me cansei

Batalhar....lutar!
Quero uma cama pra me deitar!

terça-feira, 18 de março de 2008

Henri Marie Raymond de Toulouse-Lautrec Monfa - Le lit - VIDA é ...foi? será!


Com a licensa do grande artista pela imagem em tela,



A vida meus senhores é feita de vida!



A vida às vezes pode se resumir

a um único momento

em que realmente sentimos em nós

a vida correr solta,

livre como o sangue.

A vida não é estanque,

mas pode o ser.

Não é necessariamente dinamismo

que faz desse milagre algo ímpar.

É da observação de nossos sentidos,

é do que sentimos

é o momento, enfim.

Vida é o que vivemos agora,

o que acaba de passar

o que jaz...

Vida já era,

é, será!

É um simples olhar

oras, é algo exemplar.

vida são palavras diferidas no tempo,

são verdadeiras feridas no ventre

são as felicidades, e também é a coisa de cheiro acre.

É a cura pra uns, desterro pra outros.

É deleite pra poucos, batalha pra muitos.

A vida....

nem eu sei bem o que é,

era,

será!



Contra-fórmulas!




Salvador Dalí tem um pensamento que mexe densamente com minhas entranhas: “Cretinizar o mundo e arruinar sistematicamente e lógica”. Sem querer dar início a uma discussão meramente filosófica sobre a assertiva do gênio Dalí, comecei a indagar sobre os estranhos modos em que as pessoas acostumaram-se a viver. Em tudo parece haver o dever, a necessidade de encontrar lógica.
Queremos e buscamos insistentemente encontrar fórmulas e soluções fáceis e rápidas pra nossos problemas. E tornamos como parte desses problemas o sentimento mais ilógico de todos, o amor. Afinal, como podemos encontrar qualquer relação racional no amor. Tratá-lo como simples contrato? Como algo que devemos lidar com frieza pensando sempre em não ferir nosso auto-amor? Creio que o maior erro da humanidade é justamente cretinizar o amor e não o mundo. Digo, aqui, o mundo em um sentido genérico: a realidade cotidiana em que nos deparamos freqüentemente com questões em que pensamos dever agir racionalmente.
Amar é jogar-se, desnudar a alma, vestir a carne, é ter coragem pra amar e saber lidar com o desamor. É viver num mundo cretinizado e de lógicas arruinadas. É saber que o amor não é definível, nem mesmo algo inteligível. É saber que nessas breves palavras aqui apresentadas, não é possível dizer, mormente não é algo a ser dito, que é isso ou aquilo. Amor é isso e é aquilo. O artista Dalí sabia o que era amar. Amava profundamente todos os sentidos que possui, amar a vontade imensa de desfazer lógicas, fórmulas, tudo o que há que nos torna mais bestas, mais fechados.
Dessa forma, creio que o homem em todos as esferas de sua vida luta, de maneira incompreensível, contra suas paixões. Paixões essas que o fazem viver, respirar verdadeiramente. Isso engendra um incômodo profundo em suas alma, que busca de maneira lógica resolver esse problema. “É um problema químico, com alguns remédios, desenvolvidos com a mais moderna tecnologia, baseada na mais avançada lógica farmacêutica, pode-se resolver tudo” dizem alguns homens. E nada se resolve. As situações ficam mais intrincadas e complexas.
E para toda essa questão não há resposta, nem devemos gastar nosso pensamento em achar uma. Salvador Dalí nos dá em outra frase que suscitaria mais uma discussão, mas que, a meu ver, finda todo um ciclo de pensamento que visa quebrar a lógica, encerrada na idéia central da busca constante da perfeição: “Não tenha medo da perfeição. Você nunca vai atingi-la”. É isso, enfim. O homem e sua danosa busca pela perfeição. Eu e meu eterno incômodo.


Com a licensa do grande Dalí, achei mas adequado citar sua filosofia no texto e aplicar como imagem a grande obra "O Beijo" - de Henri de Toulouse-Lautrec

domingo, 16 de março de 2008

Pra ser sincero!! - essa foi a sinceridade que hoje já não é mais....


Pra ser sincero: não te quero!

Queres felicidade?
Pois serei falso:

Amo-te! Arde em mim
Vontade insana de ver-te
Machuca-me o corpo
Faz sentir-me torto
Afundo-me em nuvens
Perfuram-me o coração
Com forte ação, vertigens.
Quero gritar:
Retorne!
Retome meu peito!
Não deixe teu leito!
É cedo!
Mesmo que a realidade implique,
Fique!

Porém, a vida de tão sábia,
Fez-me calar a voz da inconsciência
E acordei ao lado teu,
Velho, impensado,
Verdadeiramente cansado.
E tu te levantas e pede-me
Honestidade.
Queres sinceridade? Ei-la:

Não gosto quando me gostas.
Detesto que me deteste.
Saúdo-te quando me enrolas.
Desejo ser tua peste!

Quero fugir bem longe
Toda vez que te refugias
Em mim.
Em meu bulbo, mora uma velha,
Herdeira de todo o desgosto.
Posso mesmo dizer:
Me deixe!
Vá pro mundo!
Não me mereces!
Consumiste meu tempo,
Histórias que vivi
E das quais não me lembro.
Chega de preces!

Pego um banquinho
Levo-o à varanda,
Sento-me e dou um forte suspiro.
Enfim, respiro!