terça-feira, 18 de março de 2008

Contra-fórmulas!




Salvador Dalí tem um pensamento que mexe densamente com minhas entranhas: “Cretinizar o mundo e arruinar sistematicamente e lógica”. Sem querer dar início a uma discussão meramente filosófica sobre a assertiva do gênio Dalí, comecei a indagar sobre os estranhos modos em que as pessoas acostumaram-se a viver. Em tudo parece haver o dever, a necessidade de encontrar lógica.
Queremos e buscamos insistentemente encontrar fórmulas e soluções fáceis e rápidas pra nossos problemas. E tornamos como parte desses problemas o sentimento mais ilógico de todos, o amor. Afinal, como podemos encontrar qualquer relação racional no amor. Tratá-lo como simples contrato? Como algo que devemos lidar com frieza pensando sempre em não ferir nosso auto-amor? Creio que o maior erro da humanidade é justamente cretinizar o amor e não o mundo. Digo, aqui, o mundo em um sentido genérico: a realidade cotidiana em que nos deparamos freqüentemente com questões em que pensamos dever agir racionalmente.
Amar é jogar-se, desnudar a alma, vestir a carne, é ter coragem pra amar e saber lidar com o desamor. É viver num mundo cretinizado e de lógicas arruinadas. É saber que o amor não é definível, nem mesmo algo inteligível. É saber que nessas breves palavras aqui apresentadas, não é possível dizer, mormente não é algo a ser dito, que é isso ou aquilo. Amor é isso e é aquilo. O artista Dalí sabia o que era amar. Amava profundamente todos os sentidos que possui, amar a vontade imensa de desfazer lógicas, fórmulas, tudo o que há que nos torna mais bestas, mais fechados.
Dessa forma, creio que o homem em todos as esferas de sua vida luta, de maneira incompreensível, contra suas paixões. Paixões essas que o fazem viver, respirar verdadeiramente. Isso engendra um incômodo profundo em suas alma, que busca de maneira lógica resolver esse problema. “É um problema químico, com alguns remédios, desenvolvidos com a mais moderna tecnologia, baseada na mais avançada lógica farmacêutica, pode-se resolver tudo” dizem alguns homens. E nada se resolve. As situações ficam mais intrincadas e complexas.
E para toda essa questão não há resposta, nem devemos gastar nosso pensamento em achar uma. Salvador Dalí nos dá em outra frase que suscitaria mais uma discussão, mas que, a meu ver, finda todo um ciclo de pensamento que visa quebrar a lógica, encerrada na idéia central da busca constante da perfeição: “Não tenha medo da perfeição. Você nunca vai atingi-la”. É isso, enfim. O homem e sua danosa busca pela perfeição. Eu e meu eterno incômodo.


Com a licensa do grande Dalí, achei mas adequado citar sua filosofia no texto e aplicar como imagem a grande obra "O Beijo" - de Henri de Toulouse-Lautrec

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