O poeta revigorou-se de subito
E viu aproximar-se em seu decúbito
a verdade que veio cambaleante
Embebida em vinho
Vermelha como a vontade do viajante
De querer reencontrar sua vida
E desejou encontra-la do jeitinho
Que a deixou
Quando partiu sem rumo
Ou rumo ao desconhecido se aprumou.
Voltou acanhado
Mas ainda assim destemido
E receoso de ter de reconstruir
Tudo aquilo que havia deixado.
Mas nao ficou inacabado
Nada do que havia falado
o que chegava aos ouvidos alheios
Como sussurros ou lampejos.
Sabia que chegava de fininho
Abrindo a porta ao facho de luz
E dizendo ”voltei pra ti”
como quem se seduz
numa piscadela ou num pequeno gesto
malfeito ou torto
e ainda assim a reconquista
e se reconforta.
Sabia que à primeira vista
Tudo se endireita
E se escancara a porta
Àquele pensamento
De que estava certo.
Pois a vida é assim, pensou o poeta:
As verdades são ébrias contumazes
Que te perseguem feito capatazes
Com a foice erguia em seus braços
Te atando em dois atos
Pra dizer que foi justo.
Ou que mereces sofrer.
Mas a verdade,
Ah, a verdade,
Ela sempre irá te envolver.