domingo, 23 de janeiro de 2011

o poeta de verdade

O poeta revigorou-se de subito

E viu aproximar-se em seu decúbito

a verdade que veio cambaleante

Embebida em vinho

Vermelha como a vontade do viajante

De querer reencontrar sua vida

E desejou encontra-la do jeitinho

Que a deixou

Quando partiu sem rumo

Ou rumo ao desconhecido se aprumou.

Voltou acanhado

Mas ainda assim destemido

E receoso de ter de reconstruir

Tudo aquilo que havia deixado.

Mas nao ficou inacabado

Nada do que havia falado

o que chegava aos ouvidos alheios

Como sussurros ou lampejos.

Sabia que chegava de fininho

Abrindo a porta ao facho de luz

E dizendo ”voltei pra ti”

como quem se seduz

numa piscadela ou num pequeno gesto

malfeito ou torto

e ainda assim a reconquista

e se reconforta.

Sabia que à primeira vista

Tudo se endireita

E se escancara a porta

Àquele pensamento

De que estava certo.

Pois a vida é assim, pensou o poeta:

As verdades são ébrias contumazes

Que te perseguem feito capatazes

Com a foice erguia em seus braços

Te atando em dois atos

Pra dizer que foi justo.

Ou que mereces sofrer.

Mas a verdade,

Ah, a verdade,

Ela sempre irá te envolver.

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