segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Sem




De mãos cortadas
e pés virados pro céu.
Sou cabeça aos ventos
corpo nú e sem véu.
Pr'amar ao relento
Sou sem casamento.
Pra deixar pra herdar
não tenho o rebento.


Sou a mula a carregar
a cumbuca d'água.
Estou sem vaga
e nem mesmo há chaga
de que me possa curar.


Sou a vida sem sangue
sou o restante,
a cinza sem brasa
sou o desgaste do mangue.
Sou surdo, sou mudo
sem cercas ou muro
para o inverno chegar.


Solidão às vezes como veneno
toma meu corpo
me faz oco.
Sou torto.
Sou porto pra névoa
que aos poucos toma o espaço
Estou selva
desbravada floresta
sem árvores, sem água.
SECO. OCO.

Sou Éris acinzentando os ânimos
provocando a cisão
terminando em prantos
gritos de morte, fim do verão.
Estou em casa de Hades
sem Pesérfone pra aquecer meu coração.

Nenhum comentário: